Cultura | 23 de julho de 2018 17:41

Revista FÓRUM: “2001”, 50 anos em 2018

Filmagem em estúdio de cena em que astronauta flutua no espaço | Foto: Cortesia Douglas Trumbull

Cultuada obra-prima que uniu Kubrick e Clarke completa cinco décadas

POR SERGIO TORRES

Da união de dois artistas geniais surgiu, há 50 anos, um dos mais importantes filmes de todos os tempos, aquele que é considerado o ponto máximo alcançado no gênero rotulado de ficção científica. Trata-se de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, que reuniu, pela primeira e última vez, os já então famosos Stanley Kubrick, cineasta norte-americano, e Arthur C. Clarke, escritor e cientista britânico.

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Hoje, um longa de ficção científica tem muito mais cenas preparadas em computador do que em sets. São filmes passados no espaço sideral, em planetas longínquos, com batalhas intergalácticas e personagens estranhos – vide a série de aventuras “Guerra nas Estrelas”, referência da ficção moderna. Não é o que vemos nos quase 150 minutos de “2001”.

Os cenários espaciais do filme que Kubrick dirigiu, com roteiro em parceria com Clarke, foram montados em estúdio. As imagens da evolução de astronautas e naves no negro espaço estrelado, ainda impactantes cinco décadas depois, não saíram de uma pioneira programação computadorizada. Foram filmadas em sets na Inglaterra.

Os efeitos psicodélicos do Portal Estelar, um dos destaques do final de “2001”, surgiram da fusão de fotos em remotas regiões da África, Grã-Bretanha, América do Norte e ilhas do Mediterrâneo com imagens captadas ao se movimentar o conteúdo de tonéis de tintas. Zero em glamour; dez em criatividade.

Para detalhar como a obra-prima foi planejada, realizada e lançada, o escritor americano Michael Benson, entusiasta de “2001” desde a infância, dedicou 15 anos à preparação de “2001: Uma Odisseia no Espaço – Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de uma Obra-Prima”, livro lançado este ano no Brasil pela editora Todavia.

Benson entrevistou dezenas de participantes do filme: produtores, atores, técnicos, auxiliares, cinegrafistas, fotógrafos, montadores, designers. Clarke foi entrevistado mais de uma vez. Kubrick, não, pois morrera em 1999, aos 70 anos. A viúva Christine Kubrick deu um depoimento importante ao autor.

O perfeccionista Kubrick procurou Clarke em 1964. O escritor, um mestre da ficção científica, vivia no Ceilão (atual Sri Lanka), onde presidia a Associação Astronômica. Nos contatos escritos e pessoais, o diretor expôs a intenção de fazer o mais importante filme de ficção científica de todos os tempos. Ele criticava os longas do gênero. Implicava com cenários, efeitos primários, tramas e interpretações.

Nada muito diferente para um cineasta que, antes, se dedicara ao mais importante filme épico jamais realizado (“Spartacus”, clássico com Kirk Douglas); ao mais importante filme de guerra (“Glória Feita de Sangue”, também com o astro Douglas); à mais importante comédia satírica (“Dr. Fantástico”, com Peter Sellers).

“Eu quero fazer o primeiro filme de ficção científica que não seja considerado um lixo”, disse Kubrick ao amigo Artie Shaw, clarinetista de jazz e fã de ficção científica. Foi Shaw quem sugeriu a ele ler “O Fim da Infância”, obra de referência de Clarke. Kubrick leu, gostou e decidiu conversar com o escritor.

Clarke tinha 47 anos ao conhecer Kubrick. Era, e foi até morrer em 2008, aos 90 anos, entusiasta da possibilidade de o homem viajar pelo Sistema Solar e vir a se instalar fora da Terra. Na época do primeiro contato com o cineasta, ele já era uma autoridade mundial no assunto, graças aos vastos conhecimentos científicos, mecânicos, cosmológicos, tecnológicos e astronômicos. A parceria estava firmada.

O filme levou quatro anos para ficar pronto. O ponto de partida foi um conto que Clarke publicara em 1951, “A Sentinela”. Atrasos e estouros de orçamento se sucederam até a estréia em 2 de abril de 1968, em Washington (EUA).

“2001: Uma Odisseia no Espaço” impactou crítica e público. A introdução, batizada de “A aurora do homem”, ainda hoje impressiona. Em meio a uma tribo de pré-homens, surge o famoso monólito negro, passo inicial da trama que se desenvolveria 4 milhões de anos depois.

O filme tem poucos diálogos e atores. Kubrick não escolheu nenhum top de Hollywood. Os astronautas são interpretados por Keir Dullea e Gary Lockwood, artistas de pouco nome e que não desenvolveram carreiras de sucesso a partir dali. O computador Hal é o personagem inesquecível de “2001”, assim como a trilha sonora. A valsa “Danúbio Azul”, de Johann Strauss, e a sinfonia “Assim Falou Zaratustra”, de Richard Strauss, passaram a ser associadas ao espaço negro e à evolução das astronaves.

Veja aqui a íntegra da revista Fórum.